Mário Rita, "le voyeur” no caminho da luz

Exposição “Les Voyeurs”, de Mário Rita
Lisboa, Miguel Justino Contemporary Art, 24 set. – 24 out. 2015

São para mim verdades do Homem que se renova […] pela singularidade que alguns conseguem ver. Esses tenho a certeza que levam na frente a Luz.
Mário Rita, 2015

Em Mário Rita, sobressai a força com que liberta o seu universo introspetivo na linha, no traço, nas manchas, no gesto subentendido. Entre o abstracionismo mais minimalista, o figurativismo e o neoexpressionismo mais intuitivo, Mário Rita exercita a capacidade do desenho a carvão nas representações de figuras fragmentadas ou intersecionadas, em que se misturam pinceladas fluídas de cor e colagens, velaturas e opacidades, ou, nas obras mais recente, experimentando materiais inéditos como as colchas de seda com texturas e padrões que se insinuam sob a pintura. No desenho, ou na pintura, o impulso subjetivo do gesto predomina sobre a geometria da composição.

Exposição "Les voyeurs", 2015.

Exposição “Les voyeurs”, 2015.

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É, outra vez, uma pintora chamada Josefa… Acerca dos textos da exposição no Museu de Arte Antiga

Exposição “Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português
Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga, 16 maio – 6 set. 2015

É a primeira vez que, neste blogue, escrevo duas vezes sobre o mesmo assunto. E não o faria se a Maria Vlachou não me tivesse referido – em comentário público no Facebook – que a experiência que teve nesta exposição não era assim tão positiva como a contava em Era uma vez uma Era uma vez uma pintora chamada Josefa. Acontece que Maria Vlachou é voz creditada em assuntos de comunicação cultural ((Dispensa apresentações, mas é a fundadora e diretora da Acesso Cultura e autora do blogue Musing on Culture.)) e as sua opiniões nesta matéria merecem ser ouvidas, até porque é das poucas pessoas entre nós a refletirem publicamente sobre isto.

Eu gostei da exposição; os “meus adolescentes”, que costumo usar como barómetro da eficácia comunicativa dos museus ou das exposições a que vamos, também gostaram a ponto de perder a noção do tempo.

Exposição "Josefa de Óbidos": entrada Museu Nacional de Arte Antiga Foto: MIR, 2014

Exposição “Josefa de Óbidos”: entrada
Museu Nacional de Arte Antiga
Foto: MIR, 2014

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Era uma vez uma pintora chamada Josefa…

Exposição “Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português
Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga, 16 maio – 6 set. 2015

A exposição “Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português” é mais do que a apresentação da pintora e da sua obra. A propósito desta exposição, apetece dizer “era uma vez”, porque aqui se conta uma história, entre tramas e contextos que se cruzam, narrativas que se sucedem acerca dos seus lugares, dos tempos, das relações e das referências que construíram a vida e a arte de Josefa de Óbidos.

Há muito tempo que não gostava tanto de uma exposição. E devo confessar que não sou (ou não era) apreciadora de Josefa de Óbidos, apesar da revelação iniciada por Nuno Vassalo e Silva, numa visita sem pressas, em 1991, na Galeria D. Luís, já deserta após o fecho da exposição. Mesmo assim, não consegui ultrapassar o preconceito acerca de uma pintura aparentemente monocórdica e ingénua, com uns Meninos corados, de corpinho rechonchudo percetível sob a camisinha rendada, barros decorados com laços de seda e cestas de flores e frutas…

Menino Jesus, Salvador do Mundo (3) Exposição "Josefa de Óbidos..." Foto: MIR, 2015

Menino Jesus, Salvador do Mundo (3)
Exposição “Josefa de Óbidos”
Museu Nacional de Arte Antiga
Foto: MIR, 2015

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O não-museu dos Coches

Não, o novo Museu dos Coches ainda não abriu. O que abriu, no passado sábado (23 de maio), foi o novo espaço para onde transitaram os coches do antigo museu.

Ao longo do fim-de-semana, houve filas intermináveis, porque era novidade e era gratuito e, talvez sobretudo, porque a publicidade e toda a polémica geraram uma imensa curiosidade. Um comunicado da Direção Geral do Património Cultural, confirmava o afluxo de 19.865 visitantes e a realização de cerca de 250 visitas guiadas. Parece um bom prenúncio para as expetativas de Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura que, na conferência de apresentação do novo museu aos jornalistas, disse esperar pelo menos 350 mil visitantes por ano, o que significa um aumento exponencial face aos 207 mil que, em 2014, visitaram o museu nas antigas instalações.

Museu dos Coches Foto: MIR, maio 2015

Museu dos Coches
Foto: MIR, maio 2015

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A festa dos museus

16 de maio é a Noite dos Museus e 18 de maio é o Dia Internacional dos Museus (DIM).

Instituído, em 1977, por iniciativa do Conselho Internacional dos Museus (ICOM), constitui uma ocasião privilegiada de comunicação com uma audiência alargada, muito para lá do público habitual, e em moldes fluídos e dinâmicos, pouco frequentes nas rotinas quotidianas.

Dia Internacional dos Museus 2015 Fonte: ICOM

Dia Internacional dos Museus 2015
Fonte: ICOM

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Os museus da Gulbenkian na rota de um novo ciclo

Penelope Curtis será a primeira estrangeira a dirigir o Museu Calouste Gulbenkian e anuncia-se uma inédita articulação com o Centro de Arte Moderna (CAM). Foi escolhida através de um concurso, igualmente pouco comum entre nós, percebendo-se a intenção de recrutar alguém de perfil internacional, ao ser amplamente divulgado no estrangeiro através da parceria com a  Liz Amos Associates, uma empresa de recrutamento britânica especializada na área cultural.

Museu Calouste Gulbenkian

Museu Calouste Gulbenkian

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Almada Negreiros e Orpheu

Exposição “Almada Negreiros: o que nunca ninguém soube que houve
Lisboa, Museu da Eletricidade, 12 dez. 2014 – 29 mar. 2015

Exposição “Os caminhos de Orpheu
Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, 24 mar. – 20 jun. 2015

“Almada Negreiros: o que nunca ninguém soube que houve” esteve aberta ao público no Museu da Eletricidade, de Dezembro até 29 de Março de 2015, assinalando o centenário da revista Orpheu, na qual Almada (1893-1970) teve uma participação fundamental.

Exposição “Almada Negreiros: o que nunca ninguém soube que houve” Foto: Fundação EDP; contemporânea.pt

Exposição “Almada Negreiros: o que nunca ninguém soube que houve”
Foto: Fundação EDP; contemporânea.pt

 

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“A pintura que vem até mim”: a imagem e a comunicação do museu Van Gogh

O museu Van Gogh, em Amsterdão, possui a maior coleção mundial da obra do pintor, com mais de 200 pinturas, cerca de meio milhar de desenhos e 800 cartas, e de outros pintores do século XIX, além de uma vasta biblioteca temática.

Museu van Gogh, Amsterdão.

Museu van Gogh, Amsterdão.

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Tanto esplendor e glória para tão pouco contar

Exposição “Splendor et gloria: Cinco joias setecentistas de exceção
Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga, 24 set 2014 – 4 jan. 2015

O título da exposição Splendor et gloria: Cinco joias setecentistas de exceção, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) sugere e sublinha que esta é uma oportunidade rara. As notas oficiais confirmam o estatuto de singularidade – quer do procedimento museológico, quer da qualidade das peças expostas – através de uma adjetivação superlativada: “Um dos mais ambiciosos projetos do MNAA”, “o esplendor artístico”, “obra-prima”, “dois artistas excecionais”, “peças de exceção”, “um acervo a todos os títulos excecional” (MNAA, 2014a). Nuno Vassallo e Silva, Diretor Geral do Património Cultural, concorre a este discurso laudatório, afirmando que “as peças de assinalável importância artística e patrimonial, são de incontestável primeira água […], fazendo desta exposição uma das mais importantes alguma vez realizada pelo Museu das Janelas Verdes, sob a direção de António Filipe Pimentel” (MNAA, 2014b, p. 9).

Exposição Splendor et gloria Foto: MIR, set. 2014

Exposição Splendor et gloria
Foto: MIR, set. 2014

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Museus e tecnologia: uma realidade a dois ritmos

Uma deambulação pelas salas do Museu Nacional de Arte Antiga faz-se com uma reconfortante impressão de constância: são aquelas as obras que nos acostumámos a ver ao longo de décadas; são as mesmas salas, com as portas abertas numa sucessão quase infinita; é a mesma atmosfera familiar. E, no entanto, faz-se também com a grata descoberta de algum refrescamento: de repente, apercebemo-nos de outra sequência, uma peça que não nos lembrávamos de ver ali, uns suportes que foram renovados, a sugestão implícita de um novo percurso.

Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga Foto: MIR, 2014.

Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga
Foto: MIR, 2014.

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