O despertar da era da experiência, segundo Sarah Kenderdine: museus e humanidades digitais

“We are in the midst of a transformation, from a world of screens and devices to a world of immersive experiences”.
Brian Krzanich

Sarah Kenderdine, diretora adjunta do National Institute for Experimental Arts (NIEA) e diretora do Laboratory for Innovation in Galleries, Libraries, Archives and Museums ( iGLAM Lab), na University of New South Wales: Art & Design (Australia), esteve em Portugal para apresentar a palestra The age of experience: cultural heritage in future museums, organizadas por Helena Murteira (CHAIA/UE – Linha de História da Arte), Paula André (DINÂMIA’CET-IUL/ ISCTE-IUL – Linha Cidades e Territórios) e Daniel Alves (IHC/FCSH/UNL – Linha de Humanidades Digitais e Investigação Histórica), no passado dia 1 de junho, no auditório J.J. Laginha no ISCTE-IUL.

Sarah Kenderdine  ISCTE-IUL, 2015.

Sarah Kenderdine
ISCTE-IUL, 2015.

Partindo da epígrafe de Brian Krzanich, CEO da Intel Corporation, Sarah Kenderdine redefine o conceito de museu em função da transformação da nova era digital, no que respeita ao desenvolvimento de novos recursos quer para transmissão do conhecimento, quer para a criação de experiências imersivas centradas no sujeito.

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#DayofDH Museums and digital technology: concurrence or convergence?

When digital technologies began to invade our lives, museums seemed to be condemned to the past, while people were been increasingly seduced by new forms of entertainment, more dynamic, more interactive, more spectacular and more immediately rewarding. Should it be the end of museum era (as the end of theatre, cinema, or book era)?

In museums, some curators tried to consolidate the institution in its always framework: an erudite, sober and unchangeable, place with a high knowledge content, in contrast to  the “non-places” of our supermodernity, as described by Marc Augé (1992), or to the ever-changing realities of ours network connections with no-time and no-where. By preserving the memory, the authority of the object in custody in the museum would be a final stronghold against the changes of contemporary…

Or museums can update themselves and use technology in their behalf.

Utilização de recursos de Humanidades Digitais no Museum of Modern Art (MoMA) Foto: MIR, 2014.

Digital humanities @ Museum of Modern Art (MoMA)
Photo: MIR, 2014.

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Digitalização: nova vida para bibliotecas e museus

Em jeito de advertência, devo dizer que há assuntos de que não é possível falar objetivamente, sem nos colocarmos inteiros, com um turbilhão de memórias a afetar a lucidez da análise… talvez, sobretudo, quando se trata de algo em que investimos tempo, suor e lágrimas, travando lutas desesperadas por pequenas vitórias.

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Persistência e mudança: a difícil adesão dos museus às Humanidades Digitais

[Publicado, em simultâneo, no sítio do Dia das Humanidades Digitais #diahd14]

As novas tecnologias, além de criarem profundas transformações no espaço do nosso quotidiano, alteraram o paradigma epistemológico e metodológico das últimas décadas. Não será possível, ainda, avaliar objetivamente o impacto das novas tecnologias na cultura e na sociedade, mas é inevitável reconhecer as implicações do acesso hipermediático à informação. Hoje, somos detentores, quase involuntários, de grandes quantidades de dados, passando o investigador de “descobridor” a “selecionador-processador- redutor-organizador” da informação obtida, antes de efetuar a respetiva análise. É neste contexto que se formula uma questão de partida: como se reorienta a missão do museu na era digital? A partir desta, perfilam-se novas questões: de que forma se incorporam as Humanidades Digitais no museu? Em que consiste, agora, a função do curador, assumindo a coexistência do mediador-comunicador com a do conservador, após a longa tradição da prevalência das tarefas de conservação e preservação do património sobre a sua divulgação? Os conservadores e restantes profissionais dos museus estão dispostos a encarar a mudança? As tutelas estão, elas próprias, interessadas nessa mudança?

Utilização de recursos de Humanidades Digitais no Museum of Modern Art (MoMA) Foto: MIR, 2014.

Utilização de recursos de Humanidades Digitais no Museum of Modern Art (MoMA)
Foto: MIR, 2014.

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A propósito de um congresso sobre as novas tendências em humanidades

O XII Congreso Internacional sobre Nuevas Tendencias en Humanidades teve lugar em Madrid na Universidad San Pablo CEU, entre 11 e 13 de junho de 2014, estruturado em cinco temas:
˗   Estudios críticos y culturales
˗   Comunicación y estudios de lingüística
˗   Las humanidades en la literatura
˗   Estudios cívicos, políticos y de la comunidad
˗   Educación y humanidades.

Entrada para o XII Congreso Internacional sobre Nuevas Tendencias en Humanidades. Madrid, Universidad San Pablo CEU Foto: Dália Guerreiro, 2014

Entrada para o XII Congreso Internacional sobre Nuevas Tendencias en Humanidades.
Madrid, Universidad San Pablo CEU
Foto: Dália Guerreiro, 2014

Sessão de abertura pelo Prof. Karim Gherab-Martín. Foto: Dália Guerreiro, 2014.

Sessão de abertura pelo Prof. Karim Gherab-Martín.
Foto: Dália Guerreiro, 2014.

Esperava-se um amplo debate sobre humanidades digitais, assumindo o maior peso concedido aos estudos no âmbito da literatura e da linguística. O que se justifica, atendendo ao facto de que a primeira experiência no âmbito da aplicação da computação foi o projeto Index Thomisticus, desenvolvido desde 1949, pelo linguista Robert Busa. Estranha-se, em contrapartida, a ausência de investigadores em museologia, tendo havido apenas duas conferências relacionadas com museus.

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Metropolitan Museum of Art: a disponibilização do acervo em linha e outros desvios à norma

O Metropolitan Museum of Art (Met), de Nova Iorque, anunciou a disponibilização em linha das imagens da maior parte do acervo, num total de cerca de 400.000 ficheiros de alta qualidade, os quais podem ser automaticamente transferidos sem que seja necessário pedir autorização ou pagar taxas de utilização. A notícia correu pelas redes sociais e provocou um inesperado número de acessos que obrigaram ao fecho temporário do sítio eletrónico do museu.

The Metropolitan Museum of Art: The Collection Online 2014

The Metropolitan Museum of Art: The Collection Online
2014

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A era digital e as narrativas na nova museologia

A nova doutrina museológica trouxe a narrativa, a capacidade de “contar uma história” para um plano central da experiência no museu. Os guiões expositivos, como o do Museu de Quay-Branly ou o do Louvre Lens, tendem a abandonar a lógicas das sequências espácio-temporais ou estilísticas, para tentar uma dialética mais fluida e abrangente, na qual o visitante possa seguir diferentes perspetivas e cruzar vários registos culturais. Outra estratégia passa pela utilização de equipamentos museográficos complementares, como os audio-guias ou os vídeos e, agora, os dispositivos interativos com jogos de realidade aumentada e virtual.

Museu virtual Europeana

Museu virtual Europeana

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A era digital e as narrativas na nova museologia

A nova doutrina museológica trouxe a narrativa, a capacidade de “contar uma história” para um plano central da experiência no museu. Os guiões expositivos, como o do Museu de Quay-Branly ou o do Louvre Lens, tendem a abandonar a lógicas das sequências espácio-temporais ou estilísticas, para tentar uma dialética mais fluida e abrangente, na qual o visitante possa seguir diferentes perspetivas e cruzar vários registos culturais. Outra estratégia passa pela utilização de equipamentos museográficos complementares, como os audio-guias ou os vídeos e, agora, os dispositivos interativos com jogos de realidade aumentada e virtual.

Museu virtual Europeana

Museu virtual Europeana

Em dezembro passado, no blog da Europeana, Wiebe de Jager arriscava: “2014: the breakthrough of virtual reality?” (Jager, 2013, 11 dez). Considerando o desenvolvimento da tecnologia de realidade virtual (VR) e dos óculos imersivos 3D, a progressiva redução dos custos tendo em vista o generalizado consumo doméstico, começam a desenhar-se novas oportunidades para os museus.

A first step would be to recreate existing museums online so that people from all over the world could visit them from exactly where they are. And then each of us could curate collections and put them in an environment of our choosing: how about looking at some of Rembrandt’s paintings in one of the workshops he worked in? Or what about a museum in which you could change the entire collection with a press of a button? How about stepping into a painting from Monet and being able to walk around the water-lily pond? (Jager, 2013, 11 dez).

Em Portugal, começam a desenvolver-se alguns projetos que, apesar de parecerem incipientes face a alguns programas corporativos, envolvendo recursos humanos e financeiros de grande envergadura, confirmam a adesão às novas tecnologias. No âmbito dos projetos em curso, distinguem-se: o LX Conventos: Da cidade sacra à cidade laica, cujo objetivo é estudar, de forma sistemática e integrada, o impacto da extinção das ordens religiosas no desenvolvimento, funções e imagem da nova cidade liberal, que se define principalmente como secular; o Lisboa antes do terramoto de 1755, que se propõe criar uma modelação em 3D da zona ribeirinha da cidade de Lisboa atingida pelo terramoto de 1755, compreendendo o paço real da Ribeira, entre a Rua da Capela, a Praça da Patriarcal, a Torre do Relógio, a Casa da Ópera e o espaço confinante da Ribeira das Naus. Enquanto o primeiro trata de um fenómeno determinante para a história da museologia, o segundo está diretamente relacionado com o Museu da Cidade, em Lisboa.

Projeto Lisboa antes do terramoto de 1755

Projeto Lisboa antes do terramoto de 1755

O projeto Lisboa antes do terramoto de 1755 está a ser desenvolvido, desde 2010, pelo Centro de História da Arte e Investigação Artística  (CHAIA) da Universidade de Évora, com a parceria da empresa Beta Technologies, usando a tecnologia Second Life® do ambiente virtual Kitely. A criação dos modelos 3D é feita a partir da maqueta feita por Ticiano Violante, entre 1955 e 1959, para integrar a exposição “Reconstrução da Cidade depois do Terramoto de 1755” e que se encontra atualmente no percurso expositivo do Museu da Cidade. O museu reivindica a autoria da conceção do projeto de reconstituição, do levantamento iconográfico e da investigação histórica em que a modelação tridimensional se baseou (Museu da Cidade, 2008). A partir daí, o projeto prosseguiu sem a intervenção do museu, até ao acolhimento de um posto multimedia para a apresentação dos resultados, onde as volumetrias parecem demasiado esquemáticas e fictícias, a informação relativa aos monumentos se adivinha incipiente e as fontes não são referidas.

A questão que se coloca é acerca dos benefícios do projeto: quais as vantagens, o que acrescenta ao conhecimento, sobretudo no cotejo com outras fontes de informação pré-existentes em suporte analógico, como a maqueta ou a coleção de gravuras e pinturas expostos no museu? No que respeita à produção de conhecimento acerca da cidade de Lisboa antes do Terramoto, o benefício é ínfimo, mas é mais expressivo no âmbito da atualização do meio de transmissão digital, por parte do museu, e da aquisição interativa da informação, por parte do público.
Referências bibliográficas:
Jager, W. de (2013, 11 dez.) Virtual reality and the museum of the future. Europeana blog. Acedido em:  http://blog.europeana.eu/2013/12/virtual-reality-and-the-museum-of-the-future/
Museu da Cidade. (2008). Reconstituição 3D de Lisboa antes do Terramoto de 1755. Museu da Cidade. Retrieved May 23, 2014, from http://www.museudacidade.pt/investigacao/projectos/Paginas/Projecto1.aspx

Fontes das imagens:
Museu virtual da Europeana: http://blog.europeana.eu/2013/12/virtual-reality-and-the-museum-of-the-future/
Imagem projeto Lisboa antes do terramoto de 1755 processada a partir de: http://www.museudacidade.pt/investigacao/projectos/Paginas/Projecto1.aspx

Humanidades Digitais para os museus

No passado dia 8 de abril foi o dia das Humanidades Digitais (Digital Humanities).

Os dias disto ou daquilo valem o que valem e, geralmente, não são mais do que uma chamada de atenção ou um pretexto para se falar do assunto. O que já é alguma coisa. No caso das Humanidades Digitais que, não sendo um domínio científico recente, ainda é pouco referido entre nós, serviu sobretudo para aferir quem procura integrá-lo na respetiva investigação científica ou que projetos se inscrevem neste âmbito.

Foto promocional do projeto CHESS Augmented Reality at Digital Heritage 2013 na Galeria Arcaica do Museu da Acrópole em Atenas.

Foto promocional do projeto CHESS Augmented Reality at Digital Heritage 2013 na Galeria Arcaica do Museu da Acrópole em Atenas.

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